domingo, 19 de novembro de 2017

Enfim, o Eclipse

Ainda era cedo naquela segunda-feira de agosto - dez da manhã, se tanto. Havíamos saído de Nashville com antecedência, movidos por uma soma de ansiedades – a nossa, trazida desde o Brasil, e a que piscava incessantemente nos painéis luminosos espalhados pela cidade, avisando sobre prováveis engarrafamentos no dia do eclipse.

A viagem de quarenta minutos até a cidadezinha de Gallatin, tantas vezes ensaiada no Google Maps, durou, vejam só, exatos quarenta minutos. E não foi difícil encontrar um lugar para parar o carro, apesar dos pontos oficiais de estacionamento no parque já estarem tomados por americanos ainda mais precavidos. Orientados pelo pessoal do evento, estacionamos num grande descampado gramado, no qual as fileiras de automóveis iam rapidamente se formando. De posse de nossas modestas tralhas (três cangas, garrafinhas de água mineral e algumas frutas), seguimos a pé até o ponto central do Triple Creek Park, acompanhando as famílias que levavam seus incríveis equipamentos de camping – cadeiras e mesinhas dobráveis; geladeiras com rodinhas; tendas tamanho XGG, entre outros apetrechos considerados totalmente indispensáveis para um dia ao ar livre.

Enquanto caminhávamos, fomos percebendo que o parque, que nos parecera, em visitas pelo Street View, um local ermo e sem atrativos, tinha sido transformado para receber os visitantes. Voluntários davam as boas vindas, distribuíam informativos sobre as atrações do encontro e ofereciam óculos especiais para a observação do eclipse. Reforçamos o estoque de água mineral, distribuída gratuitamente, localizamos a área de banheiros químicos e nos instalamos à sombra de uma fileira de árvores, nossas canguinhas estiradas providencialmente no gramado.
As duas horas de espera até que o eclipse começasse passaram aos pulos, no ritmo da nossa felicidade. Eu não esperava me sentir tão envolvida, mas o clima alegre das pessoas ao nosso redor, a música (James Taylor, Bob Dylan e afins) ao vivo no palco, o céu praticamente sem nuvens, a organização e o cuidado com os detalhes do encontro, foram me fazendo dar graças por poder estar ali. E o Mário, sorriso brilhando, andando de lá pra cá no meio de lunetas e telescópios poderosos, falando com gente apaixonada por astronomia, vinda, de perto e de longe, para ver o espetáculo do dia.

Depois que a lua começou a sombrear o sol, não arredamos mais pé do nosso ponto de observação. Olhos colados no céu, acompanhamos as mudanças na natureza e a reação das pessoas:
 - Não tira os óculos, pode cegar! - Acho que a sombra já está na metade, vê só! - Tá ficando mais fresco, né?- Pode me emprestar o seu binóculo? - De onde vocês são? ... Brasil! Tão longe!


Escureceu quando o eclipse total se desenhou, e ouviram-se palmas e cigarras cantando, e vozes em alvoroço. Olhos livres e corajosos, assim como as câmeras fotográficas, procuravam capturar os 2 minutos e 40 segundos de círculo negro. Foi uma beleza o clarão que anunciou o final da sobreposição perfeita! Lua e sol se despediram, e continuaram em seus caminhos plenos de luz, assim como nós. 
No retorno para o estacionamento, seguimos as famílias que, além da emoção e dos equipamentos de camping, levavam também o lixo que produziram. Ao fim da tarde, deixamos o parque lá atrás, de volta à sua essência: um local ermo e sem atrativos, mas, definitivamente, o mais marcante da nossa viagem.



Para ver outras imagens, clique em Galeria de Fotos - Eclipse
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Na Rede:
  • Eclipse MegaMovie Project - promovido por uma associação entre a Astronomical Society of the Pacific, a Universidade da Califórnia em Berkeley e o Google. O objetivo do projeto foi produzir um vídeo a partir de imagens coletadas por fotógrafos voluntários ao longo do caminho do eclipse. O resultado, que inclui uma foto feita pelo Mario 😊😊, pode ser visto em https://eclipsemega.movie/
  • Dentre os vários vídeos produzidos durante o The Gallatin Eclipse Encounter, selecionei este que, apesar de não ter boa resolução nas imagens do eclipse propriamente dito, mostra bem a reação emocionada das pessoas no parque na hora H.  https://youtu.be/4IXg3aPLHaw

2 comentários:

angela disse...

Muito bom Ana! Obrigada por compartilhar como sempre 🌘😎
Imagino a alegria de vocês em poder verem juntos este espetáculo tanto o humano quanto o celeste.

Ana Beatriz disse...

Foi uma delícia mesmo, Angela. Obrigada pelo comentário. Bjs.